O Partido Socialista apresentou uma proposta de alteração ao Orçamento de Estado 2026 intitulada "Programa de Apoio à Resiliência das Rádios" com o propósito de apoiar a aquisição de geradores. Esta proposta nasceu após audição e diálogo tidos com a APR (Associação Portuguesa de Radiodifusão) que decorreu em Setembro.
A proposta apresentada pretendia envolver as rádios locais e regionais como "agentes" da proteção civil. No nosso entender a proposta revela fraquezas e levanta questões importantes:
- A proposta abrangeria cerca de 320 rádios. Quantas dessas rádios funcionam 24 horas por dia?
- As rádios só podem comunicar a informação que conseguem receber. Será possível assegurar um canal de comunicação infalível entre a proteção civil e todas as rádios em caso de situação falha de energia elétrica geral?
Numa rede de rádio digital DAB+ a informação é inserida na cabeça de rede (Lisboa) e é de forma imediata diretamente disponibilizada para os cidadãos com um equipamento DAB+, mesmo que o mesmo esteja desligado.
- A maioria das rádios possui o emissor deslocalizado dos estúdios. Tal significa que cada uma teria que possuir dois sistemas de geradores. Constatamos que seriam necessários até 640 geradores para equipar todas as rádios.
Durante o "apagão" de Abril mais de metade dos SMS de alerta da Proteção Civil não chegou à população porque as redes móveis foram fortemente impactadas. Uma rede de rádio digital será muito mais resiliente, como a TDT o foi durante o "apagão" ou tem sido durante os grandes incêndios. Através do DAB+ e da funcionalidade Automatic Safety Alert (ASA), pode-se de forma automática e imediata ativar um canal de emergência (sem necessidade de intervenção do cidadão) e desta forma prestar informação à população via áudio e texto. Países que sofreram catástrofes naturais recentemente como foi o caso da Alemanha e de Espanha já adotaram o sistema ASA.
Também por esse motivo, pela superioridade da solução ASA, consideramos que o DAB+ poder ser uma importante valia para a proteção civil e terão mais mérito propostas que apoiem a introdução do sistema DAB+ no nosso país.
Somos de opinião que a subsidiação da tecnologia de radiodifusão em FM neste momento daria um sinal errado e seria contraproducente ao desenvolvimento da atividade de radiodifusão em Portugal, nomeadamente da rádio digital e da corrente Europeia de migração do FM para a rádio digital DAB+. Recordamos que, após intervenção do blogue TDT em Portugal, a ANACOM reconheceu em 2024 que a capacidade do FM está esgotada no nosso país e que a introdução do DAB+ no nosso país poderá trazer benefícios para a atividade de rádio.
Dado que o sistema de radiodifusão DAB+ oferece vantagens consideráveis para os ouvintes e para as próprias rádios, somos da opinião que se deveriam priorizar medidas de apoio à adoção do DAB+ pelas rádios portuguesas. Cremos que essa deve ser a aposta do país.
O menor consumo, para além de uma grande poupança na fatura da energia elétrica, naturalmente traduz-se também numa maior capacidade de autonomia em caso de falha da rede elétrica e em soluções de redundância de energia mais económicas e menos poluentes.
Acreditamos que subsidiar a radiodifusão em FM nesta altura seria pois um desperdício de recursos (sempre limitados) pelo que se deveria antes propor medidas de apoio à adoção do DAB+ pelas rádios que está bastante atrasado relativamente à maioria dos países Europeus.
É aliás, impossível não considerar a possibilidade desta proposta ter
sido uma tentativa de diminuir uma das principais vantagens da rádio
digital DAB+.
Recordamos que a maioria dos países Europeus (mas não só) já adotou o sistema DAB+ de rádio digital e alguns até já fizeram o desligamento do FM. Em Portugal o Governo reconheceu o atraso do país e em Fevereiro anunciou o inicio de um período de testes que ainda não começou e do qual não mais se ouviu falar.
A proposta foi chumbada na Assembleia da República.
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É mesmo muito estranho que a proposta do PS tenha sido chumbada, quando quem anunciou o início de testes foi um atual ministro do PSD. Com estas politiquices, quem não ganha nada é mesmo o cidadão que se vê privado do acesso (por direito) a uma tecnologia digital que estamos fartos de ouvir apregoar para uma mudança digital de Portugal, ou a rádio digital não entra neste apregoar?
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