06/12/2025

Governo desistiu da Rádio Digital? Promessa de testes DAB+ por cumprir!

Em 13/02/2025, no Dia Mundial da Rádio, o ex Sec. de Estado dos Assuntos Parlamentares Carlos Abreu Amorim anunciou pelo Governo o inicio «para muito em breve» de emissões teste de rádio digital DAB+ em Lisboa e no Porto. O DAB+ é o sistema de rádio digital já adotado pela maioria dos países europeus e não só.

No entanto, rapidamente constatámos que as coisas não estavam a correr bem. A nossa preocupação aumentou com a ausência de qualquer referência ao DAB+ no aniversário dos 90 anos da Rádio Pública. Até à data não se realizaram quaisquer emissões e nada mais foi divulgado a respeito do assunto.

De facto, a RTP não confirma qualquer aquisição de equipamento necessário para o inicio das emissões. Inquirida a respeito das emissões teste, a provedora do ouvinte consultou a Direção de Engenharia, Sistemas e Tecnologia da RTP e respondeu: 

"Os equipamentos utilizados estão completamente obsoletos e inoperacionais, assim, estamos a falar da aquisição de raiz da totalidade dos equipamentos necessários à emissão (não se trata unicamente dos emissores). A velocidade da evolução tecnológica obriga a uma avaliação do quadro internacional sistemática. Qualquer decisão no sentido de proceder à instalação de uma rede de DAB+ em Portugal, requer um estudo cuidado e envolve um investimento muito avultado. Entendemos que a aposta neste tipo de distribuição, caso se venha a entender-se como positiva, deverá ser um movimento comum do sector, e não apenas de um operador.”

(...) qualquer decisão em avançar com o relançamento da rádio digital em Portugal passará sempre pela Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), a entidade que regula o mercado das comunicações em Portugal, e que gere o espectro radioelétrico. 

Esta resposta não convence e por si só suscita várias questões: 

Aquisição da totalidade dos equipamentos?

Até as antenas e os cabos? Não. As instalações já existem. A energia elétrica, o sistema de backup e o ar condicionado estão instalados. Está quase tudo pronto. Falta comprar dois emissores e um multiplexer

Instalação de uma rede de DAB+ em Portugal? 

Não se trata disso! Por enquanto, trata-se apenas de dois emissores para emissões teste

Deverá ser um movimento comum do sector, e não apenas de um operador?

O Sr. Sec. de Estado afirmou que várias rádios fariam parte do teste e que o custo seria suportado por elas. Essa afirmação pressupõe um acordo prévio.

Mas a RTP indiretamente refere a ausência de acordo entre as rádios e "passa a batata quente" para a ANACOM. Recordo que (após intervenção do blogue TDT em Portugal) a ANACOM afirmou: 

Relativamente aos contributos sobre o sistema DAB+, assinala-se que a ANACOM tem continuado a acompanhar a matéria e os desenvolvimentos a nível europeu. Não obstante, informa-se que a banda III (174 – 230 MHz) continua reservada para serviços de radiodifusão em Portugal, onde se incluem as aplicações T-DAB. A ANACOM admite, tal como o fez no Relatório da consulta pública sobre o Plano Plurianual de Atividades 2025-2027, que a introdução do DAB/DAB+ poderá trazer benefícios para a atividade de rádio tendo em conta a falta de disponibilidade de frequências FM (87,5 – 108 MHz), uma vez que estas já se encontram maioritariamente atribuídas e em utilização. A ANACOM terá em devida consideração manifestações de interesse pelo mercado, ponderando possíveis medidas a adotar e respetivos benefícios e desvantagens, no âmbito das suas competências e em articulação com demais entidades competentes. 

Recordo que está estipulado no contrato de serviço público que a RTP tem o dever de inovação e de desenvolvimento tecnológico

«A Concessionária recorre a tecnologias, técnicas e equipamentos inovadores que proporcionem a diversificação dos modos de oferta, bem como a melhoria da qualidade e eficiência do serviço público de media…». 

A inovação tecnológica em rádio traduz-se na rádio digital DAB+, que as suas congéneres da União Europeia estão a adotar! 

Em Espanha, Itália, Reino Unido e muitos mais países a rádio pública tem liderado a inovação na rádio. Não desistem da rádio, investem no seu futuro. Como é possível ter à frente das rádios públicas quem toma decisões que põem em causa o seu futuro, recusando o projeto Europeu de uma melhor rádio para todos? 

Em Portugal o serviço público foi instrumental no fracasso da TDT e agora quer fazer o mesmo com a rádio?! 

 

Mapa de países com emissões DAB+
Países com emissões de rádio digital DAB+

Importa referir que o anúncio dos testes DAB+ foi feito numa rádio universitária (RUA). Nenhum dos órgãos de comunicação social ditos "mainstream" divulgou a noticia. Enviei três mensagens para o dep. de informação da RTP (incluindo o diretor de informação) questionando o porquê do silêncio a respeito deste assunto. Como esperava, até à data não obtive resposta. 

O DAB+ voltou a ser falado na sede da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) em 1/03/2025 pelo então Sec. de Estado dos Assuntos Parlamentares Carlos Abreu Amorim, que referiu a situação do DAB+ na Europa e as vantagens do sistema, como a sua valência para a Proteção Civil para a qual o blogue tem chamado a atenção, nomeadamente à ANACOM. 

Curiosamente, não existe qualquer referência a esse assunto no site da APR. Mais, em Novembro contactámos a APR: 

Ex.mos Srs,
Gostaríamos de conhecer em que fase está o projeto das emissões teste em DAB+ anunciadas pelo Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Carlos Abreu Amorim, na sede da APR em 01.03.2025. 

E recebemos a seguinte resposta:

Na sequência dos esclarecimentos solicitados, cumpre-nos informar que essa é uma matéria da exclusiva responsabilidade do Governo, e na qual a APR não está, nem nunca esteve, envolvida, pelo que não dispomos de qualquer informação relativa a essa processo.

Achamos estranho que a APR afirme não estar envolvida quando a maioria das rádios nacionais são membros da APR, entre elas as rádios públicas, a TSF a Observador e as rádios do grupo BAUER (R. Comercial, M80, etc). 

Mais, a APR como noticiámos, apresentou recentemente uma proposta que pretendia envolver as rádios locais e regionais como "agentes" da Proteção Civil, uma função que a rádio DAB+ pode desempenhar melhor através do sistema ASA (Automatic Safety Alert System) e para o qual chamámos a atenção da ANACOM, mas não só. 

No dia 5 de Junho o Sec. de Estado Carlos Abreu Amorim foi promovido a Ministro dos Assuntos Parlamentares e a tutela do audiovisual transitou para o Ministério da Presidência, em coordenação com o Ministério da Economia e da Coesão Territorial e o Ministério da Cultura, Juventude e Desporto. 

Contactámos o Ministério da Presidência onde chamámos a atenção para as inúmeras vantagens da adoção do DAB+ para o país, sugerimos apoios e solicitámos informação sobre o andamento do projeto. Até à data não recebemos resposta. Contactámos também o PS que respondeu e agradeceu a «especificidade técnica da informação enviada» que terá sido «de grande aprendizagem».

Como se pode constatar, NADA foi feito. Provavelmente nada ficou escrito. E assim, se houve algum acordo entre o Governo a as rádios, parece-nos que ficou o dito por não dito. 

Para comprar e instalar dois emissores não são necessários dez meses. Infelizmente tudo indica que o projeto está parado e muito provavelmente não haverá rádio digital DAB+ em Portugal!  

Recordo que em várias ocasiões propusemos a difusão das principais rádios através da TDT (como sucede em vários países), possibilitando a receção fixa em digital com grande qualidade, mas nem isso foi aceite, apesar de haver espaço no multiplex

Se o espectro do FM está lotado e o DAB+ tem custos de operação muito mais baixos, resta então perceber porque é que as rádios portuguesas não querem o DAB+. A resposta só pode ser: medo da CONCORRÊNCIA. 

Devido à elevada eficiência espectral do sistema digital DAB+, se o mesmo for adotado existirá espaço (espectro rádio) para muitas mais rádios. E poderá ser esse o receio dos grupos de media que já operam em Portugal, a possibilidade de mais concorrência. 

Mas a rejeição da rádio digital só é possível em parte porque há rádios que poderão estar a contornar a lei criando redes nacionais em FM através da "absorção" de rádios locais. Isto passa-se com a autorização da ERC. A essa realidade fiz referência em consultas públicas da ANACOM. O próprio ex Sec. de Estado afirmou que isso configurava «fraude à lei». Mas se é "fraude à lei" o Governo não faz nada?

O Lobby é das poucas "instituições" que funciona bem em Portugal. Não seria a primeira vez que os grupos de media presentes no mercado conseguem impedir a concorrência. Recordamos que a TDT só chegou a Portugal porque foi imposta pela União Europeia e os grupos privados (com a cumplicidade da televisão pública) tudo fizeram para que a oferta de canais fosse a mesma da TV analógica

Agora e mais uma vez parece-nos que os interesses de alguns se sobrepõem aos interesses da maioria. O Governo deve-nos uma resposta!

No primeiro post deste blogue terminei afirmando:  

«Esperemos que o processo seja conduzido de forma séria e competente para que não termine noutro fracasso digital.»

Em Portugal, aparentemente isso é pedir demais! Depois da vergonha da TDT, este é mais um episódio triste no áudio-visual português. Pior, estas situações são sintoma de Governos fracos e de um Estado fraco. 

Infelizmente, a  rádio será mais um indicador em que Portugal será ultrapassado por todos os países da União Europeia. Somos um país que não perde uma oportunidade de ficar parado enquanto os outros avançam...

Entrevista do ex Sec. de Estado Carlos Abreu Amorim:

 

O discurso do ex Sec. de Estado na APR pode ser visionado aqui.

Relacionado: 

O DAB+ e a Proteção Civil
Contributo para o Plano de Atividades ANACOM 2026-2028
Contrato do Serviço Público de Rádio e Televisão (contributo)
Blogue pede papel mais ativo ao regulador
DAB+ avança em Espanha
DAB+ A rádio digital terá nova oportunidade em Portugal

29/11/2025

O DAB+ e a Proteção Civil

O Partido Socialista apresentou uma proposta de alteração ao Orçamento de Estado 2026 intitulada "Programa de Apoio à Resiliência das Rádios" com o propósito de apoiar a aquisição de geradores. Esta proposta nasceu após audição e diálogo tidos com a  APR (Associação Portuguesa de Radiodifusão) que decorreu em Setembro.

A proposta apresentada pretendia envolver as rádios locais e regionais como "agentes" da proteção civil. No nosso entender a proposta revela fraquezas e levanta questões importantes:

  • A proposta abrangeria cerca de 320 rádios. Quantas dessas rádios funcionam 24 horas por dia?
  • As rádios só podem comunicar a informação que conseguem receber. Será possível assegurar um canal de comunicação infalível entre a proteção civil e todas as rádios em caso de situação falha de energia elétrica geral?

Numa rede de rádio digital DAB+ a informação é inserida na cabeça de rede (Lisboa) e é de forma imediata diretamente disponibilizada para os cidadãos com um equipamento DAB+, mesmo que o mesmo esteja desligado.

  • A maioria das rádios possui o emissor deslocalizado dos estúdios. Tal significa que cada uma teria que possuir dois sistemas de geradores. Constatamos que seriam necessários até 640 geradores para equipar todas as rádios.


Durante o "apagão" de Abril mais de metade dos SMS de alerta da Proteção Civil não chegou à população porque as redes móveis foram fortemente impactadas. Uma rede de rádio digital será muito mais resiliente, como a TDT o foi durante o "apagão" ou tem sido durante os grandes incêndios. Através do DAB+ e da funcionalidade Automatic Safety Alert (ASA), pode-se de forma automática e imediata ativar um canal de emergência (sem necessidade de intervenção do cidadão) e desta forma prestar informação à população via áudio e texto. Países que sofreram catástrofes naturais recentemente como foi o caso da Alemanha e de Espanha já adotaram o sistema ASA.

Também por esse motivo, pela superioridade da solução ASA, consideramos que o DAB+ poder ser uma importante valia para a proteção civil e terão mais mérito propostas que apoiem a introdução do sistema DAB+ no nosso país.

Somos de opinião que a subsidiação da tecnologia de radiodifusão em FM neste momento daria um sinal errado e seria contraproducente ao desenvolvimento da atividade de radiodifusão em Portugal, nomeadamente da rádio digital e da corrente Europeia de migração do FM para a rádio digital DAB+. Recordamos que, após intervenção do blogue TDT em Portugal, a ANACOM reconheceu em 2024 que a capacidade do FM está esgotada no nosso país e que a introdução do DAB+ no nosso país poderá trazer benefícios para a atividade de rádio.

Dado que o sistema de radiodifusão DAB+ oferece vantagens consideráveis para os ouvintes e para as próprias rádios, somos da opinião que se deveriam priorizar medidas de apoio à adoção do DAB+ pelas rádios portuguesas. Cremos que essa deve ser a aposta do país.

O sistema DAB+ (entre outras vantagens) permite uma muito maior eficiência energética relativamente ao FM. Por exemplo, enquanto no FM é necessário um gerador por cada posto emissor, no DAB+ um só gerador pode alimentar até doze ou mais estações de rádio pois são difundidas pelo mesmo emissor (agregadas num multiplex). A tecnologia de difusão digital DAB+ pode chegar a consumir apenas 2,5% do consumo elétrico do FM para a mesma área de cobertura. 

O menor consumo, para além de uma grande poupança na fatura da energia elétrica, naturalmente traduz-se também numa maior capacidade de autonomia em caso de falha da rede elétrica e em soluções de redundância de energia mais económicas e menos poluentes.


Acreditamos que subsidiar a radiodifusão em FM nesta altura seria pois um desperdício de recursos (sempre limitados) pelo que se deveria antes propor medidas de apoio à adoção do DAB+ pelas rádios que está bastante atrasado relativamente à maioria dos países Europeus.

É aliás, impossível não considerar a possibilidade desta proposta ter sido uma tentativa de diminuir uma das principais vantagens da rádio digital DAB+.
 
Recordamos que a maioria dos países Europeus (mas não só) já adotou o sistema DAB+ de rádio digital e alguns até já fizeram o desligamento do FM. Em Portugal o Governo reconheceu o atraso do país e em Fevereiro anunciou o inicio de um período de testes que ainda não começou e do qual não mais se ouviu falar.

A proposta foi chumbada na Assembleia da República.

Relacionado: Contributo para o Plano de Atividades ANACOM 2026-2028

15/11/2025

Blogue pede papel mais ativo ao regulador

Através do blogue TDT em Portugal tenho tentado sensibilizar a ANACOM para a importância da introdução da rádio digital DAB+ em Portugal, como vem sucedendo por toda a Europa. Na consulta pública relativa ao plano de atividades 2026-2028 enviei o seguinte contributo:

Na consulta anterior lamentámos a falta de iniciativa por parte da ANACOM relativamente ao DAB+ e sugerimos a realização de ações de informação e divulgação sobre a tecnologia DAB+ dirigidas às rádios. Saudamos a admissão por parte do regulador segundo a qual «a introdução do DAB/DAB+ poderá trazer benefícios para a atividade de rádio…» e a sua abertura ao mercado. No entanto cremos que o regulador poderá ter um papel mais ativo nesta matéria e por isso reiteramos a nossa sugestão porque consideramos que Portugal poderia beneficiar estudando as experiências de outros países que já iniciaram emissões em DAB+.

Sendo o DAB+ o sistema digital que permite melhorar significativamente a oferta de programas, a qualidade do sinal e a experiência de utilização de forma gratuita para os ouvintes (com custos mais baixos também para as rádios), lamentamos que mais uma vez a posição do regulador favoreça o interesse dos operadores de telecomunicações que naturalmente favorecem o streaming pois ele é pago. 

No analógico, lamentamos que a consulta da informação (Base de dados com a lista de operadores e emissores) relativa às rádios continue indisponível desde 31/01/2025.

Lamentavelmente, para além do blogue TDT em Portugal apenas a CPMCS (Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social) referiu a rádio no seu contributo:

Do mesmo modo, em matéria de gestão do espectro, questiona-se a ausência de qualquer referência à sua disponibilização para operações de comunicação social, não apenas no âmbito da TDT mas também de uma eventual evolução da radiodifusão sonora para o DAB+ ou outro sistema digital.

Saúda-se a menção da evolução para o DAB+. Não entendo o comentário a respeito do espectro uma vez que a ANACOM já havia referido que há espectro atribuído para a radiodifusão digital T-DAB na banda VHF-III.

Resposta da ANACOM:

Relativamente aos contributos sobre o sistema DAB+, assinala-se que a ANACOM tem continuado a acompanhar a matéria e os desenvolvimentos a nível europeu. Não obstante, informa-se que a banda III (174 – 230 MHz) continua reservada para serviços de radiodifusão em Portugal, onde se incluem as aplicações T-DAB. A ANACOM admite, tal como o fez no Relatório da consulta pública sobre o Plano Plurianual de Atividades 2025-2027, que a introdução do DAB/DAB+ poderá trazer benefícios para a atividade de rádio tendo em conta a falta de disponibilidade de frequências FM (87,5 – 108 MHz), uma vez que estas já se encontram maioritariamente atribuídas e em utilização. A ANACOM terá em devida consideração manifestações de interesse pelo mercado, ponderando possíveis medidas a adotar e respetivos benefícios e desvantagens, no âmbito das suas competências e em articulação com demais entidades competentes.

A ANACOM esclarece que a base de dados dos operadores de radiodifusão no sítio da ANACOM na Internet tem estado em atualização e será disponibilizada assim que o respetivo processo de atualização esteja concluído.

O regulador acaba por nada dizer. E supostamente deveria estar em curso a instalação de dois emissores T-DAB em Lisboa e no Porto cuja ativação carece de autorização da ANACOM, que nada diz sobre o assunto. Será que o prometido teste DAB+ ainda não saiu do papel?

O relatório da consulta pode ser consultado aqui.

05/10/2025

DAB+ Avança em Espanha

Após em 2024 a RTVE ter disponibilizado as suas rádios em DAB+ em 15 cidades espanholas, o Governo Espanhol deu agora luz verde para a expansão da rádio digital a todo o país.

Assim, foi decidido que a rádio pública e as privadas de âmbito nacional irão utilizar duas redes multi-frequência (MF-I e MF-II) com capacidade para 12 rádios cada utilizando codificação de audio MPEG HE-AAC v2. 

A cobertura será faseada e de acordo com as seguintes metas para a rede MF-I:

  • 50% da população no espaço de 3 meses.
  • 70% da população no espaço de 12 meses.
  • 85% da população no espaço de 24 meses. 

Compreendendo que a rádio se escuta maioritariamente no automóvel, o Governo Espanhol definiu também metas de cobertura para as principais vias de comunicação. Recordo que defendi o mesmo para o inicio das emissões DAB+ em Portugal:

«DAB+ CAR RADIOE também porque o maior público da rádio são os automobilistas e atualmente praticamente todos os recetores em uso capazes de receber o DAB+ são os auto-rádios, deveriam ser ativados emissores de forma a permitir a receção das emissões DAB+ ao longo de (pelo menos) a autoestrada A1!» 

Para a rede MF-II a cobertura deverá inicialmente alcançar pelo menos 20% da população. Foram também definidas regras para as emissões de rádio digital de âmbito regional e local e contemplada a possibilidade das autoridades públicas locais instalarem repetidores de baixa potência a fim de eliminar zonas sombra. As rádios regionais e locais poderão iniciar emissões em DAB+ livremente sempre que tal não afete nem os restantes operadores nem o planeamento da rede. Posteriormente e em data a definir, todas as emissões de âmbito regional e local serão realizadas unicamente em DAB+.

Tal como venho argumentando, uma das mais importantes mais-valias do DAB+ reside na capacidade de ser utilizada como sistema de alerta em situações de emergência. Não surpreende pois que o Governo Espanhol tenha estipulado que as redes DAB+ deverão estar preparadas para utilizar o sistema ASA (Automatic Safety Alert system).

Espanha é apenas um dos muitos países onde a verdadeira rádio digital tem sido implementada. Em vários países a revolução da rádio digital já chegou inclusivamente às rádios locais e comunitárias.

Por cá, lamenta-se a demora no arranque as emissões teste em DAB+. Recordo que em Portugal o inicio de emissões em DAB+ (teste) foi anunciado em Fevereiro e desde então mais nada se sabe. Na altura do anúncio o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares comentou que alguns consideravam que Portugal já chegava demasiado tarde ao DAB+ e que as emissões arrancariam muito em breve. 

Das rádios nacionais (públicas e privadas) absoluto silêncio a respeito do DAB+. Nem na comemoração dos 90 anos da rádio pública (onde se falou do passado e do futuro) houve qualquer referência à rádio digital!

 

Leitura adicional:

Consulta Pública DAB+ Espanha (texto da consulta)
Contrato de Concessão do Serviço Público de Rádio e TV 2025 (contributo)

10/05/2025

DAB+ - A rádio digital terá nova oportunidade em Portugal

DAB+
A rádio digital irá ter nova oportunidade para vingar em Portugal. Após o fracasso das emissões DAB que foram encerradas em 2011, em breve será iniciado um período de teste e avaliação do sistema DAB+.
As informações ainda são escassas tendo apenas sido adiantado que o teste terá a duração de dois anos e serão utilizados dois multiplexes, um cobrirá a região da grande Lisboa e outro a do grande Porto. Os custos serão suportados pelas rádio difundidas. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Carlos Abreu Amorim, no âmbito do Dia Mundial da Rádio. Recordo que o blogue TDT em Portugal foi a única entidade que publicamente (aqui no blogue e através de consultas públicas) tem pedido a divulgação do DAB+ junto das rádios e o inicio de emissões em DAB+ à ANACOM e ao Governo. Portugal será um dos últimos países da Europa a iniciar emissões radio no sistema DAB+.

Como tenho dito, a introdução do DAB+ faz todo o sentido por diversos motivos: a falta de frequências do FM para as novas rádio (por exemplo, Observador e CMR), a redução dos custos de operação comparativamente ao FM e diversas vantagens técnicas como a melhoria da qualidade áudio, a possibilidade de difundir imagens e texto em simultâneo com a emissão áudio e a maior robustez do sinal.

A superioridade técnica do DAB+ tem ainda outras importantes vantagens que a qualquer momento poderão ser de grande importância na esfera da proteção civil como o "apagão" do dia 28 de Abril nos recordou. Uma está relacionada com o consumo de energia elétrica que, por ser inferior à do FM, em caso de falha de energia elétrica permite aos emissores emitirem durante mais tempo com recurso a baterias. Outra vantagem do DAB+ é a de permitir a ativação imediata de canais rádio de emergência em que não é necessário o ouvinte sintonizar o canal de emergência, os próprios equipamentos ligam-se sozinhos e sintonizam-se no canal de emergência!
 
A possibilidade de ser utilizada como rede de comunicação de emergência de forma imediata e o menor consumo de energia elétrica por si só justificam o investimento na rádio digital.

Dito isto, a forma como o teste alegadamente irá decorrer suscita-me várias reservas. Não houve qualquer consulta pública prévia. Quem vai instalar a rede? A RTP ou a Altice/MEO? Também,  para avaliar devidamente o sistema seria necessário ativar mais emissores, pelo menos ao longo do litoral que é a zona mais afetada por variação das condições de propagação. E também porque o maior público da rádio são os automobilistas e atualmente praticamente todos os recetores em uso capazes de receber o DAB+ são os auto-rádios, deveriam ser ativados emissores de forma a permitir a receção das emissões DAB+ ao longo de (pelo menos) a autoestrada A1!

Outra preocupação diz respeito às rádios que irão ser difundidas nas emissões teste. Seria um grande erro disponibilizar apenas as rádio públicas. A oferta de rádio deverá ser diferenciadora relativamente ao FM com todas as rádios de âmbito nacional (RDP, RR, RFM, Comercial, TSF, Observador) mas também novos canais de forma a cativar os ouvintes. De outra forma acontecerá como com a TDT no período pré-desligamento, emissores no ar mas praticamente ninguém a utiliza-la. E é feita referencia a dois multiplexes, um em Lisboa e outro no Porto. Terá o Secretário de Estado confundido multiplexes com emissores? Dois multiplexes normalmente pressupõem emissões com oferta de rádios diferentes em cada um deles. 
 
Enfim, há ainda muito por esclarecer mas o anúncio do inicio de emissões teste em DAB+ é uma excelente notícia. Esperemos que o processo seja conduzido de forma séria e competente para que não termine noutro fracasso digital.